Quando os santos recolhem ao leito: mística, santidade e modernidade em Portugal entre os séculos XVII e XX

Este estudo pretende investigar as razões profundas para uma mutação essencial no modelo de santidade em Portugal durante o século XVII. Essa mutação, que é bastante nítida nos processos inquisitoriais de falsa santidade, teve lugar em meados do século e consistiu numa interiorização da vivência mís...

Full description

Saved in:  
Bibliographic Details
Main Author: Ribeiro, António Vitor (Author)
Format: Electronic Article
Language:Portuguese
Check availability: HBZ Gateway
Journals Online & Print:
Drawer...
Fernleihe:Fernleihe für die Fachinformationsdienste
Published: Centro de Estudos de História Religiosa 2013
In: Lusitania sacra
Year: 2013, Volume: 28, Pages: 119-152
Further subjects:B Interioridade
B Piedade vitimal
B Sacrifício
B Santidade
B Modernidade
Online Access: Volltext (kostenfrei)
Volltext (kostenfrei)
Description
Summary:Este estudo pretende investigar as razões profundas para uma mutação essencial no modelo de santidade em Portugal durante o século XVII. Essa mutação, que é bastante nítida nos processos inquisitoriais de falsa santidade, teve lugar em meados do século e consistiu numa interiorização da vivência mística, em detrimento de manifestações exteriores. O corpo inanimado do alegado santo impõe‑se a partir daí como signo e única forma de manifestação externa, substituindo‑se parcialmente às visões, locuções e outros favores divinos. Esta “somatização” da mística resultou em grande medida do processo de interiorização trazido pela chamada “modernidade”, na qual têm destaque a autobiografia, a confissão e a direcção espiritual. Ao mesmo tempo, o final do século XVII trouxe o fenómeno da marginalização da mística, levando a que este género de manifestações se confinasse às camadas populares, principalmente camponesas, transmitindo uma falsa ideia de arcaísmo a um fenómeno que era, na sua essência, um produto historicamente recente.
This study intends to explore a deep change in the pattern of holiness in Portugal in the seventeenth century. This change, which seems clear in inquisitorial records of trials for false holiness, took place during the mid‑seventeenth century and consisted of an increasing internalization of the mystical experience, as opposed to an externally expressed one. The saint’s inanimate body imposes itself as sign and sole form of external manifestation, gradually replacing more traditional features, such as visions, inspired conversations and other divine favours. This “somatization” of mysticism was, in a large extent, the outcome of the self‑awareness process brought by the so‑called “modernity”, where confession, spiritual guidance and autobiography have played a major role. At the same time, the end of the seventeenth century saw the marginalization of mysticism, confining mystic phenomena to the popular, mostly rural social strata, and assigning a false idea of archaism to a phenomenon which was essentially historically modern.
ISSN:2182-8822
Contains:Enthalten in: Lusitania sacra
Persistent identifiers:DOI: 10.34632/lusitaniasacra.2013.6643